segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Retrospectiva

Olhar para trás é uma coisa curiosa. Redimensionar o passado através das lentes da maturidade é algo que pode ser reconfortante ou devastador, não há como ser morno.
Auto análise é algo perigoso, muito perigoso, mas espírito natalino e a inquietude dos ultimos dias me levam a ela. Vejamos:
Um ano depois:
1. Eu engordei
2. Eu sinto que endureci, não fico mais boba com o clima de alegria coletiva, nem espero mais um cartao meloso de aniversário
3. Eu choro mais facilmente que antes
4. Minha memoria continua a mesma: a gravar cada detalhe das coisas boas e ruins
5. Eu me sinto dividida: quero ir embora, voltar pra Paris, quero ficar aqui, quero ter uma casa e uma familia
6. Não sei se caso ou se compro uma bicicleta
7. Eu fico feliz com coisas que antes me incomodavam
8. Eu não tenho mais paciencia com as musicas que eram minha companhia no metro lotado
9. Eu criei a horrivel mania de protelar as coisas tanto quanto possivel
10. Eu estive onde queria e sinto como se não tivesse aproveitado o maximo daquilo
Mas o que afinal eu fiz de bom nesse ano meu Deus????

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Cinzas

Eu já te disse? Eu não nos reconheço mais...
É sempre que sinto essa sensação estranha, como um déjà vu: claro, nítido, desconhecido e familiar
Eu não te reconheço mais: quem de fato é você?
Eu não consigo ficar longe, por que? Se eu ja não te entendo mais
Se você já não pensa mais em mim como antes
Se não somos as mesmas pessoas e essa coisa cinza entre nós não é o amor que eu cultivei?
Para onde foi o amor que eu cultivei?
Diz o que foi feito dos nossos sentimentos, dos nossos sonhos, daquilo que era bobo e nosso
O que foi feito de nós
Se as pessoas em nosso álbum parecem estranhas e o passado, tão distante
Diz pra mim, sinceridade, o que foi feito do nosso amor
Diz pra mim, porque não acredito que nosso amor de tantos anos acabou-se aqui
Por que não acredito que eu ainda te amo.
Diz pra mim, o que é isso que temos aqui
Isso que ousamos chamar amor.

domingo, 16 de novembro de 2008

sábado, 8 de novembro de 2008

Das lembranças e outros demônios.

Eu odeio. Odeio lembrar de tudo, de cada detalhe, de cada sensação, cada palavra, indelevelmente gravados na memória, onde desejo nenhum conseguirá apagar. Lá onde todos os pensamentos se conformam, é onde você está. Porque eu já conseguir me livrar de todo o resto: tuas coisas, teu cheiro, teu toque e tua voz... Mas a tua lembrança é exatamente como tu costumavas ser: persistente. Eu te arranquei a muito custo da minha pele, mas de minha memória não consegui tirar-te. Enterrei tua foto a sete palmos só para poder te esquecer, mas de nada adiantou porque é a tua imagem que me assombra dia e noite, é você quem eu vejo em meus pesadelos;
Eu odeio. Odeio ser assim, tão clichê, fazer o que não faria em outros tempos e lembrar de ti enquanto leio aquele Neruda que bem conheces, enquanto tomo aquela derradeira taça de vinho.
Porque nada do que penso, sinto ou careço já não foi infinitas vezes vivido antes ainda que por outros. É tudo tão banal e tão medíocre, mas em cores que não me agradam. Tantas vezes eu quis de volta aquela banalidade que era somente nossa...
É estranho. Não te ter por perto com tudo que isso implica. É como viver uma vida que não parece a minha, agora que você não está. É estranho não conseguir pensar em ti da maneira como eu fazia antes. Quisera eu te ter de volta. Quisera eu querer te ter volta.
Pois agora eu sei: é chegado o fim do caminho.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

In assenza di te

Estou procurando não sei bem o quê. Na verdade procurando não é bem a palavra exata. Estou mesmo tentando definir aquilo de que sinto falta para então saber onde procurar. Essa é sempre uma parte importante: saber onde procurar... A sensação de ausência é algo extremamente desagradável, é aquele incômodo que se sente quanto se sai de casa e se percebe que, embora nada esteja percetivelmente ausente, alguma coisa está faltando, como a chave que fica esquecida num canto empoeirado da estante, após termos indefinidas vezes pensado o quanto não poderámos deixá-la ali... Por isso talvez eu possa mesmo dizer que estou procurando, procurando porque não sei se esqueci, mas sei que não está aqui, o que quer que seja, e eu desejo encontrar. Estou portanto buscando uma coisa indefinida e amorfa que sei que me foi de alguma maneira tomada. Incompletitude. Eis o fato. Porque ausência é isso: é a falta mesmo quando tudo parece estar no seu devido lugar.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Finalmente... O Começo

Começos são sempre difíceis...
Falta nos começos a sensação de segurança e estabilidade das coisas preexistentes.
Costumamos acreditar que uma coisa apenas "é" depois de devidamente consolidada, e a consolidação geralmente decorre da repetição. O "ser" está intimamente ligado à rotina, essa tantas vezes é confundida com a propria essência da coisa...
Diz um provérbio alemão: "Einmal ist Keinmal", uma vez não conta não é mesmo?
Ora, mas quem disse isso? Quem disse que uma vez não conta?
Uma vez, dependendo da situação, pode ser mais que suficiente...De uma única vez é possivel magoar, alegrar, construir, destruir e tantas outras antípodas que por aí existem... E quer saber? Isso bem pode ser uma verdade, mas é tão incrivelmente simples duvidar dela...
Acreditar na possibilidade de resultados é portanto o grande obstáculo dos começos... É dificil começar porque há dias em que não acreditamos que um único gesto fará diferença. E pra falar a verdade, às vezes não faz... Mas no fundo, se observarmos bem, vemos que mesmo na ausência aparente de afirmações positivas (no sentido filósofico) dos frutos de nossas ações, tudo sempre deixa algum vestígio de si, às vezes um botão. Às vezes um rato*.


* DRUMMOND, Resíduo

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A flor e a náusea

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

-- Carlos Drummond de Andrade